CINEMA

Candidatos à Palma de Ouro estreiam em Cannes

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Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO
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Publicado em 09/07/2021 às 11:44

Alterado em 09/07/2021 às 11:48

Avshalom Pollak (esq.) e Nur Fibak, protagonistas do filme ‘Ahed’s Knee’ Créditos: lesfilmsdubal Foto: Les Films Du Bal

Após a concorrida première mundial de “Annette”, do diretor francês Leos Carax, que abriu a 74ª edição de Cannes, foi iniciada a exibição dos filmes que disputam a Palma de Ouro, cujos vencedores serão conhecidos dia 17.

Os dois primeiros mostrados já prenunciam serem fortes candidatos ao prêmio: “Ahed’s Knee”, do diretor israelense Nadav Lapid (Urso de Ouro em Berlim 2019 com “Synonymes”) e “Tout s’est Rien Passé”, do cultuado François Ozon.

Numa conferência de imprensa promovida pelo festival, nessa quinta feira (8), as equipes de “Ahed’s Knee” e “ Tout s’est Rien Passé” responderam a perguntas sobre os filmes, a motivação para realizá-los e temas relacionados com desempenho e personagens.


‘Ahed’s Knee’

“Ahed’s Knee” (Ha’berech) segue Y., cineasta de 40 anos (Avshalom Pollack) que chega a um vilarejo remoto na orla do deserto para exibir um de seus filmes. Lá ele conhece Yahalom (Nur Fibak) – que trabalha no Ministério da Cultura – e se vê diante de duas batalhas: a morte de sua mãe e a perda da liberdade artística em seu país.

Acompanhado de Pollack e Fibak, Lapid iniciou a entrevista explicando uma questão colocada em seu filme: embora ele seja muito crítico, mostra uma afeição por Israel, expressando o amor que sente por sua terra natal.

“Estou mais interessado nas marcas que um país deixa na alma das pessoas e menos preocupado com estados e fronteiras. Estou mais interessado no aspecto de como a alma das pessoas são mudadas e, por vezes, atormentadas pelo Estado. Eu recuso categoricamente minha inclusão nesse debate de ter que provar meu amor por Israel, não acho que devo cair nessa armadilha. Muitos artistas vivem esse dilema, mas eu não quero me colocar na posição de embaixador do país”, ressaltou o cineasta, expondo sua opinião sobre o momento político atual.

“Nós temos a ilusão de que, se informássemos tudo que está acontecendo, conseguiríamos transformar as coisas. Mas acho que somente com palavras não conseguiremos, não existem palavras suficientes no dicionário para mudar profundamente as coisas”, destacou.

Falando sobre o trabalho de câmera e som do filme, que provoca um forte engajamento com os espectadores, Lapid contou que “Ahed’s Knee” foi escrito em duas semanas e filmado entre 10 e 11 meses.

“Como em todos os meus filmes, a urgência do momento definiu como nos engajaríamos nas filmagens. Eu tento me afastar do excessivamente prático para tentar ir além, enfim, eu tento me aproximar mais da alma”, destacou, respondendo a uma pergunta sobre se o papel da música no filme teve o objetivo de representar uma espécie de catarse.

“Eu acho que os momentos musicais representam fantasia e ressoam com os espectadores, principalmente nas partes de dança. Acho que esses momentos de dança dos personagens mostram quem eles realmente são”, destacou o cineasta de 46 anos.

A seguir, os atores Pollack e Fibak explicaram como se prepararam para viver os papéis.

“Enquanto eu estava me preparando para interpretar Y., percebi que havia algo mais a buscar. Eu tive então que descobrir coisas dentro de mim para agregar à atuação, de modo que não fosse uma mera imitação do personagem”, ressaltou Pollack.

Fibak, por sua vez, contou que na primeira leitura do roteiro achou que não tinha nada em comum com a personagem. “Mas conforme fui trabalhando e refletindo, percebi que, na verdade, tínhamos muito em comum, e isso ajudou bastante”, concluiu a atriz.

‘Tout s’est Rien Passé’

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Sophie Marceau e André Dussollier, protagonistas do filme 'Tout s'est bien passé' (Foto: Carole Bethuel/Mandarin Production Foz)

Baseado no livro de Emmanuèle Bernheim, “Tout s’est Rien Passé” é a história de André (André Dussollier) que, aos 85 anos de idade, sofre um derrame. Sua filha Emmnuèlle (Sophie Marceau) tenta cuidar dele. Doente e parcialmente paralisado em sua cama de hospital, ele pede que ela o ajude a acabar com sua vida.

Acompanhado dos protagonistas, Ozon explicou as razões de ter esperado oito anos para adaptar o livro para as telas.

“Eu não achava que poderia adaptar o livro de Emmanuèle Bernheim, nunca senti que o tinha assimilado de fato. A autora me pediu para realizar a adaptação, mas eu resolvi deixar para mais adiante. Após um tempo, reli o livro e resolvi embarcar nessa aventura. Quando mandei o roteiro para Sophie, ela me retornou rapidamente e, a partir daí, comecei a trabalhar para fazer o filme”, disse Ozon, destacando a motivação principal para realizá-lo.

“O que mais me motivou na história foi a relação entre pai e filha. É uma história pessoal que navega entre a vida e a morte. Eu fiquei interessado em explorar como essa situação complexa afetou a filha”, disse o diretor, complementado pela atriz Sophie Marceau.

“Minha personagem é uma pessoa bastante vivaz e que ama a vida. O François havia me falado que ela é também uma pessoa muito caridosa. E aí surge a situação do pai dela, da necessidade de ajudá-lo a morrer e do dilema que isso traz. Viver as emoções complexas como as vividas pela personagem é ótimo para uma atriz”, afirmou.

Dussollier, por sua vez, falou sobre a parte gestual de construir um personagem que sofre com deficiências: “É difícil trabalhar papéis como esse. Principalmente quando se trata de um personagem com tanta complexidade e nuances”, destacou o veterano ator de 85 anos, que continua em plena atividade.

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