CADERNO B

Livro de Jean Genet sobre imperador romano trans chega às livrarias brasileiras

...

Por CADERNO B com Revista Fórum
[email protected]

Publicado em 27/09/2025 às 08:26

Alterado em 27/09/2025 às 08:26

Heliogábalo e as mulheres escravas Foto: Getty Images

Por Raony Salvador - A peça Heliogábalo, escrita por Jean Genet enquanto estava preso, foi lançado no Brasil pela editora Ercolano em agosto. Considerada perdida, a obra foi encontrada nas coleções da Biblioteca Houghton, da Universidade de Harvard, e foi publicada na França no ano passado. O drama de quatro atos é baseado na história de Heliogábalo, imperador romano que governou Roma brevemente antes de ser assassinado aos 18 anos, em 222 d.C.

Durante seu curto reinado, Heliogábalo causou grande escândalo em Roma com suas atitudes provocativas, incluindo casamentos inusitados e um comportamento sexual irreverente para a época. Seu reinado de menos de cinco anos terminou com sua morte violenta, a mando de sua avó, e os corpos de Heliogábalo e sua mãe foram arrastados pelas ruas de Roma.

Museu reconhece Heliogábalo como mulher trans
Em 2023, o Museu de North Hertfordshire, no Reino Unido, passou a tratar Heliogábalo com pronomes femininos, reconhecendo o imperador como uma mulher trans. Isso se baseia no fato de que ele usava roupas femininas e pediu para ser chamado de “senhora” ao invés de “senhor”. O museu defende que essa identidade de gênero deve ser vista à luz de uma leitura contemporânea.

A ideia de Heliogábalo como uma figura trans foi alimentada por algumas leituras modernas de sua biografia, em que ele é retratado desafiando as normas de gênero de seu tempo. Muitos estudiosos, no entanto, questionam essa interpretação, afirmando que ela reflete mais as questões de gênero atuais do que a realidade histórica.

Controvérsias
Apesar da recente reinterpretação, muitos historiadores, como Mary Beard, consideram as histórias sobre o comportamento de Heliogábalo como exageradas, afirmando que foram distorcidas por autores políticos para desacreditá-lo. Beard destaca que essas narrativas, originadas de seus inimigos, não devem ser tomadas como fatos.

Zachary Herz, professor da Universidade do Colorado, também discorda da ideia de que Heliogábalo se identificava como trans. Embora ele reconheça que o imperador desafiou as normas de gênero, acredita que as evidências para afirmar sua identidade de gênero são inconclusivas e que os pronomes femininos podem ser uma leitura moderna e anacrônica da história.

 

Deixe seu comentário