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Escutamos menos, falamos mais. O risco de uma geração ensurdecida

Por CRISTIANA AGUIAR
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Publicado em 11/08/2025 às 16:38

Alterado em 11/08/2025 às 16:38

Talvez, em um futuro próximo, tenhamos uma geração de surdos.

Quando me refiro a “geração”, não estou necessariamente falando de pessoas nascidas na mesma época, mas sim de indivíduos que compartilham os mesmos hábitos.

Ultimamente, tenho participado de muitos eventos e algo tem me chamado a atenção: o volume do som nos ambientes. Desde uma sessão de cinema infantil até cultos religiosos, o som está excessivamente alto.

De acordo com especialistas, existe um limite saudável de decibéis para o ouvido humano. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e do NIOSH (National Institute for Occupational Safety and Health, dos EUA), considera que para o ouvido humano, o nível de som considerado seguro é de até 85 decibéis (dB), por um período de exposição contínua de até 8 horas por dia.

A exposição prolongada a volumes elevados pode causar danos auditivos irreversíveis. A exposição excessiva ao ruído ensurdece.

Será que existe um propósito para tanto barulho?

Um bebê chora alto para chamar a atenção da mãe e saciar suas necessidades. Aliás, essa é a fase da vida em que temos a capacidade de produzir os sons mais agudos, especialmente nos primeiros meses de vida (de 0 a 1 ano de idade).

Isto acontece em função da anatomia do bebê (cordas vocais muito pequenas produzem sons mais agudos), da capacidade pulmonar e da função de sobrevivência.

Crescendo um pouco mais, as crianças gritam alto para tentar realizar seus desejos, que, muitas vezes, podem se resumir à tão desejada, e em alguns casos, distante, atenção dos pais.

Na adolescência, gostamos de trancar a porta do quarto e colocar o som no volume máximo. Acreditamos que essa é a ambiência ideal para nos conectarmos com a nossa própria essência.

Então vem a juventude, o início da vida adulta. Que delícia! Geralmente, já ganhamos nosso próprio dinheiro, vamos atrás dos nossos sonhos, queremos curtir nossos shows em alto som.

Alguns nunca passam dessa fase.

Para os que amadurecem, o mundo se revela barulhento: trânsito, buzinas, reclamações no trabalho, discussões dentro de casa...

E assim a vida vai seguindo, até nos depararmos com a surdez que, comumente, chega na velhice.
Obviamente, não podemos ignorar o desgaste natural do corpo humano, mas é curioso pensar que passamos a vida toda em um tom tão alto e a finalizamos com pouca ou nenhuma capacidade de ouvir.
Gosto muito de uma frase, meio clichê, que diz: “Suas atitudes falam tão alto que não consigo ouvir a sua voz.”

Neste caso, não é mais sobre falar alto ou baixo, é sobre discernir o que está sendo dito.

Que os "barulhos" que todos enfrentamos não nos façam ensurdecidos acerca de nós mesmos e do outro, o que, consequentemente, nos faria perder o sentido da vida.

A vida é relacional e ouvir é ter interesse. Quem fala tem o protagonismo de uma conversa, mas é preciso intercalar este lugar para que haja, de fato, diálogo.

Que possamos viver uma vida à altura do que sonhamos, em “alto e bom som”, na medida certa!

 

Cristiana Aguiar. CEO da Jeito Certo Consultoria. Economista, especialista em Gestão de Pessoas

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