ARTIGOS
Samuel Wainer, o amigo de meu pai
Por HENRIQUE PINHEIRO
Publicado em 01/07/2025 às 20:08
Alterado em 01/07/2025 às 20:08
Samuel Wainer foi um dos melhores amigos de meu pai, o jornalista, político e advogado João Pinheiro Neto, ex-ministro do Trabalho de João Goulart, que foi, também, o presidente da Superintendência da Reforma Agrária, no governo Jango.
Meu pai, João Pinheiro Neto, e Samuel Wainer tinham, em comum, algumas paixões.
Entre elas, as paixões pelo jornalismo e pela democracia.
Naquele tempo, assim como hoje, também, as paixões eram e, ainda são, fundamentais para a vida.
Nascido em Bessarábia, Império Russo, Wainer imigrou para o Brasil, aos seis anos de idade, junto com seus pais, Dora e Jaime.
A família, de judeus russos, foi morar em São Paulo, no bairro de Bom Retiro.
Eu conto histórias da linda amizade entre meu pai e Samuel Wainer, dois grandes jornalistas e idealistas, na fotobiografia que comecei a escrever, “Os amigos ( e os inimigos de meu pai)", sobre João Pinheiro Neto e que será lançada em 2026, no aniversário de 20 anos da morte de meu pai.
João Pinheiro Neto adorava falar sobre Samuel Wainer. E, deixou muitas cartas e fotografias de suas lembranças com o grande jornalista, amigo de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart.
Wainer começou, de fato, a carreira no jornalismo, quando se ligou ao grupo de intelectuais em torno da revista “Diretrizes”, que fundou em abril de 1934.
Jornalista de esquerda, foi trabalhar, em seguida, com o poderoso Assis Chateaubriand, nos Diários Associados.
Como repórter, destacou-se pelos "furos de reportagem", que são uma das melhores coisas que existem na vida de um jornalista.
Cobriu a Segunda Guerra Mundial, o Julgamento de Nuremberg, e, consagrou-se com a célebre entrevista com Getúlio Vargas, em 1949, que lançou o gaúcho para o "Queremismo", movimento denominado de "Queremos Getúlio" e para a campanha "Ele vai voltar", lançada para a volta de Getúlio Vargas, nas eleições presidenciais de 1950.
A amizade de Samuel Wainer com Getúlio Vargas resultou na criação do jornal “Última Hora”.
Graças à amizade de Getúlio, Samuel Wainer conseguiu um empréstimo com o Banco do Brasil para criar a “Última Hora”.
A “Última Hora” introduziu técnicas novas, no mercado. O jornal tornou-se o melhor.
Entre os que trabalharam na Última Hora de Samuel Wainer, além do meu pai, destacaram-se, entre outros, Nelson Rodrigues, Paulo Francis, Chacrinha.
A “Última Hora” foi o único jornal a defender João Goulart, em primeiro de abril de 1964, quando houve o golpe militar.
Em 1968, com o nome na lista do AI-5, Wainer refugiou-se.
Em 25 de abril de 1971, a Última Hora de Samuel Wainer rodou sua última edição.
O grande jornalista morreu no dia 2 de setembro de 1980. Deixou um importante livro de memórias, “Minha razão de viver”, editado por sua querida filha e grande amiga, Pink Wainer.
No acervo de meu pai, encontrei, ainda, cópia do lamentável "Ato número 1 (AI-1)", o primeiro ato institucional assinado pelo denominado "Comando Supremo" do golpe militar de primeiro de abril de 1964, publicado no Diário Oficial da União no dia 10 de abril de 1964) e assinado pelo general Arthur da Costa e Silva, pelo brigadeiro Francisco de Assis Correia de Mello e pelo vice-almirante Augusto Rademaker.
Na lista publicada pelo decreto do AI-1, de 10 de abril de 1964, estavam os nomes de João Goulart, meu pai, João Pinheiro Neto, Samuel Wainer, Miguel Arraes, Luiz Carlos Prestes, Darcy Ribeiro, Leonel Brizola, Waldyr Pires, Rubens Paiva, José Aparecido de Oliveira, Raul Ryff, entre outros históricos.
Samuel Wainer e a histórica “Última Hora” combateram bravamente a ditadura militar. Toda a minha admiração ao jornalista Samuel Wainer.
Bruno Wainer é o distribuidor documentário que produzi, recentemente,"Terra Revolta - João Pinheiro Neto e a Reforma Agrária” (dirigido por Bárbara Goulart e Caio Bortolotti).
Até hoje, nossas famílias são amigas. Um brinde ao jornalismo com paixão!
Henrique Pinheiro é economista e produtor executivo de cinema.