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A hora de o Brasil ser parceiro

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Por ADHEMAR BAHADIAN
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Publicado em 13/04/2025 às 10:00

Alterado em 13/04/2025 às 10:00

Vejamos os fatos: Trump esperava um telefonema chinês. Não veio. Trump esperava um apoio popular a sua política. Ao contrário, os americanos começam a correr aos supermercados com temor da escassez e da alta de preços. Trump esperava o consentimento dos super-ricos. O mercado financeiro entra em arritmia galopante. Trump esperava que as operações das obrigações do Tesouro americano se mantivessem estáveis e confiáveis. Esta semana, fluxos financeiros se dirigem à Alemanha. Trump conseguiu abalar a confiança não só das "velhinhas americanas" no Tesouro americano, mas grandes capitalistas começam a vender suas posições. Musk à frente.

Em pouco mais de 100 dias, Trump tornou os Estados Unidos um Estado chamado ora de “pária”, ora de “mafioso”. Não apenas por opositores, mas por revistas reconhecidamente conservadoras como o “The Economist”, jornais como o ‘The Guardian” ou “The New York Times”. Trump, sexta-feira à noite, unilateralmente, resolveu suspender as tarifas aplicadas a produtos tecnológicos exportados pela China. Trump não só piscou. Precisa de um oftalmologista.

Em entrevista à imprensa mundial, por ocasião da visita do primeiro ministro da Espanha, o mandatário chinês mencionou o presidente Lula como uma das principais vozes em defesa do sistema internacional justo e equilibrado.

A agenda de viagens de Lula demonstra a aceitação do papel do Brasil como interlocutor leal e construtivo. A viagem ao Japão e ao Vietnã resultou em claras reafirmações da soberania dos Estados e do reconhecimento da primazia do Direito Internacional Econômico.

Lula deverá avistar-se ainda com Xi Jinping, com autoridades europeias e ainda outros líderes, como Macron. Mais importante de tudo, Lula receberá os chefes de Estado dos Brics, em julho, no Rio de janeiro, talvez a mais importante reunião internacional deste ano de 2025.

Esta agenda indica a reconhecida importância do Brasil e reafirma a confiança da comunidade internacional na capacidade de agregação de Lula, porta-voz inequívoco da melhor Diplomacia hoje disponível no mundo. Cordial, negociadora, cumpridora de seus compromissos internacionais, defensora da Democracia, do comércio justo e equlibrado, consciente de que só o desenvolvimento social e o controle dos fenômenos climáticos poderão nos fazer sair do maior e mais ameaçador futuro.
Uma força não-armada, em consonância com as aspirações maiores de paz universal do povo brasileiro.

Agrego a esses fatos, recentes pesquisas de opinião de órgãos nacionais que confirmam a inabalável solidariedade do povo brasileiro com o regime democrático, com uma maior justiça tributária em que os ricos tenham maior contribuição para o desenvolvimento social equilibrado e o apoio explícito ao papel construtivo do Brasil no cenário internacional.

E aqui há uma constatação a se impor. Lula fala em consonância com as aspirações de seu povo, além e acima de eventuais opções partidárias que numa Democracia é de praxe.

Impossível também não reconhecer - e o melhor exemplo é o da Alemanha - que as ideologias de extrema polarização começam a perder força. O novo governo alemão governará com maioria sem a participação da extrema direita no Poder.

Neste ponto, registro como altamente alentador, que o registro autoritário e autárquico imprimido por Trump nos Estados Unidos da América não provocou senão repúdio mundo afora, esgotado como as movimentações bélicas na Faixa de Gaza, na Ucrânia e em alguns países da África. E sempre ameaçador no Oriente Médio.

Igualmente, claramente repudiada a política de ameaça à soberania de países, aliados ou não, de invasões ao direito soberano sobre seus territórios como estamos a ver nas ameaças ao Canadá ao Panamá e à Groelândia. Mesma incoerência observada em relação à Carta das Nações Unidas e ao abandono da ajuda ao desenvolvimento e à saída intempestiva da Organização Mundial da Saúde.

Sabe-se, ademais, que está nos planos maquiavélicos de Trump promover reestruturação da política industrial das grandes empresas farmacêuticas, trazendo-as de volta aos Estados Unidos em grande prejuízo para a assistência sanitária internacional.

Há certamente quem haverá de ler maliciosamente estas linhas como uma confirmação de uma possível ideologia antiamericana. Nada mais fora da realidade. Sou, claramente, contra as políticas de Trump em gênero, número e grau. Até porque hoje já não há dúvidas de que elas se baseiam em autoritarismo e falsas percepções políticas e econômicas. E tenho os melhores cientistas políticos e econômicos a meu lado.

Acredito que é chegada a hora de o Brasil reafirmar sua contribuição ao bom-senso. E o que estamos a fazer me parece digno de todo apoio e aplauso de nosso povo.

Até porque, nesta hora, replicar erros que estamos a testemunhar seria uma atestado de incurável indigência intelectual. E sobretudo de reles subserviência.

*Embaixador aposentado

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