ARTIGOS

Com quem será?

Por LIER PIRES FERREIRA e RENATA MEDEIROS

Publicado em 22/07/2024 às 07:50

Alterado em 22/07/2024 às 11:33

A velha brincadeira das festas de aniversário expõe a importância da escolha Democrata após a renúncia de Biden.

A renúncia de Joe Biden à corrida pela Casa Branca ratificou a certeza de que o atual presidente já não reunia as condições mínimas para concorrer à reeleição. Frágil e aparentando certa senilidade, Biden havia sido destroçado no primeiro debate contra Donald Trump. Para piorar, o atentado recém sofrido pelo candidato republicano reforçou sua figura de um líder forte, destemido, apto a enfrentar e vencer toda sorte de desafios. Vigoroso, Trump se apresenta como um líder ungido por Deus para resgatar a grandeza dos Estados Unidos.

Foi neste quadro que, ao longo dos últimos dias, democratas influentes, como o ex-presidente Barak Obama, buscaram convencer Biden de que sua renúncia seria necessária para preservar sua biografia e permitir com que o Partido tenha um candidato viável nas eleições de novembro.

É claro que a eleição do próximo presidente é importante para os americanos. Embora Biden, tenha conseguido reequilibrar a economia, mantendo os juros baixos e a inflação sob controle, a percepção do americano médio é a de que a sua vida vem piorando. Para esta percepção, pesam falsas informações difundidas por Trump e sua tropa de influenciadores digitais, que querem fazer crer aos eleitores que comunistas chineses estão em vias de dominar os Estados Unidos ou que o modo de vida americano esteja ameaçado por islâmicos ou imigrantes latino-americanos.

Mas as eleições nos Estados Unidos também possuem um significado vital para o mundo. Embora seja certo de que qualquer presidente, democrata ou americano, tenha o “American First” como slogan, Trump é uma ameaça à democracia na medida em que expressa pautas e valores extremistas. Alimentando paranoias de que há uma grande conspiração internacional contra a liberdade dos americanos, Trump reforça sua retórica xenófoba, racista e de confronto às instituições democráticas. Trump é o ex-presidente que, derrotado nas eleições de 2020, fomentou a invasão do Capitólio, constrangeu correligionários para reverter criminosamente resultados eleitorais que lhe eram desfavoráveis e buscou arrastar as Forças Armadas para uma aventura golpista, típica de países latino-americanos.

Como outras lideranças autoritárias, Trump tem sido hábil em capturar a frustração dos eleitores mais pobres face às incertezas da economia, bem como os temores das camadas médias, cujas direitos sociais e laborais estão sendo derretidos pela nova dinâmica do capitalismo global, na qual países asiáticos, China adiante, se mostram mais competitivos.

Carismático, Trump consegue deslocar para segmentos como imigrantes, grupos LGBITQIA+ e políticos de esquerda os ressentimentos, angústias e incertezas dos americanos com o presente-futuro, reforçando um discurso ultranacionalista, autoritário e moralista, no qual a grandeza da América requer uma luta constante contra seus inimigos, internos e externos. Daí seu grito, “Fight! Fight! Fight!”, com o qual busca amalgamar o país.

Assim como a França foi capaz de derrotar a extrema-direita, já nos 45 minutos do segundo tempo, a derrota de Trump também é um imperativo. Ela é uma exigência de um mundo que se recusa a retornar à barbárie do fascismo. Por isso, saber quem será o novo candidato democrata à presidência dos Estados Unidos é a pergunta do milhão. Kamala Harris, a vice-presidente, Gavin Newson, governador da Califórnia, e Gretchem Whitmer, governadora de Michigan, estão entre os favoritos. Porém, a ex-primeira-dama, Michelle Obama, corre por fora, sendo indicada por pesquisas como a única capaz de vencer Donald Trump. Casa Branca, “com quem será?”

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