ARTIGOS

Um caminho a seguir

Por CRISTIANA AGUIAR
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Publicado em 28/11/2023 às 07:44

Alterado em 28/11/2023 às 07:44

Um grupo de pessoas reunidas em um auditório teve que responder à seguinte pergunta: quem gostaria de ser feliz? De forma unânime, as mãos se levantaram; não havia uma pessoa sequer que não tivesse manifestado o seu desejo genuíno pela felicidade.

No entanto, outra pergunta foi realizada, quase simultaneamente: o que vocês estão fazendo para serem felizes? E o silêncio foi intrigante e avassalador. Um grande número de pessoas, e no caso desse auditório, quase a totalidade delas, quer ser feliz, mas não sabe o que fazer para isso. Talvez o problema já comece com a própria definição de felicidade, uma vez que não deve ser um lugar aonde chegamos, mas sim a jornada que escolhemos viver.

Estudos revelam que pessoas felizes têm maiores chances de obter sucesso, e não necessariamente o sucesso torna as pessoas mais felizes. Não são poucos os que confundem esses dois conceitos!
A pandemia evocou o senso de propósito de vida e com ele a relevância de conciliar a vida privada e a vida profissional de uma maneira mais feliz e saudável. O assunto, já internalizado desde 2003 pela Dinamarca, fez com que o país fosse pioneiro no entendimento da necessidade de haver uma liderança que cuide da felicidade das pessoas nas empresas.

O chamado CHO (Chief Happiness Officer), em uma tradução livre, Chefe da Felicidade Corporativa, sabe que pessoas felizes são 85% mais eficientes e 300% mais inovadoras. Empresas com colaboradores felizes têm 50% menos acidentes laborais, segundo pesquisa realizada pela Gallup.

Segundo uma pesquisa realizada pela plataforma HR First Class (Primeira Classe RH), 76% das lideranças de RH querem implementar programas de felicidade corporativa, e 41% dos entrevistados afirmam que cuidar da felicidade é importante para melhorar o clima organizacional e ampliar o senso de pertencimento.
Diante de estatísticas tão relevantes, o que falta para algumas empresas investirem na felicidade dos seus colaboradores? Talvez não invistam pelo mesmo motivo que as pessoas ficaram caladas naquele auditório: não sabem como fazer isso.

Olhando por outra ótica, apesar do retorno ser evidente, para algumas organizações o investimento parece muito alto. É preciso uma mudança de mindset, ou seja, mentalidade.

Para que uma pessoa se sinta feliz, é necessário perguntar a ela o que a faz feliz. Parece tão evidente, mas algumas pessoas estão tão desacreditadas dessa possibilidade que sequer param para pensar no assunto. O mesmo vale para a vida dentro das corporações. Será que há espaços de diálogo, onde as pessoas possam expressar suas sugestões, opiniões, e de forma significativa, colaborar?

O primeiro passo para vivenciar a cultura da felicidade como mola propulsora do crescimento é ouvir ativamente. Parece fácil, mas não é, nem na empresa, nem em casa... O segundo passo é ter interesse genuíno em mudar. Ouvir e arquivar não aproxima as pessoas, é preciso ouvir e agir. Integração, confiança, pertencimento, se sentir relevante são pilares fundamentais para que as pessoas se sintam felizes onde trabalham, mas isso não acontece sem diálogos francos e atitudes coerentes.

Como podemos, então, verdadeiramente, implementar essa cultura nas empresas? Existe uma jornada com 4 paradas obrigatórias, as quais o escritor James C. Hunter chamou em um de seus livros de: fingimento, fricção, formação e funcionamento.

No início do caminho para construir uma cultura de felicidade, é essencial que façamos a primeira parada na estação do fingimento. Perceba o que está sendo fingido e saia desse lugar.

As pessoas fingem para não desgastar os relacionamentos, não contrariar o chefe ou a pessoa amada, e acabam caindo em uma péssima armadilha, o tédio. É horrível viver abafando a nossa opinião como estilo de vida. Isso não significa que você precisa expô-la 24/7 (24 horas por dia, em 7 dias da semana), mas é fundamental haver espaço e liberdade para ser autêntico. Pessoas que fingem concordar o tempo todo dificilmente irão conseguir ser felizes de fato.

Caminhando sem fingimento é possível que você chegue logo na segunda parada, a fricção. Entendemos que discordar nos leva a discutir e/ou brigar, e não precisa ser assim. Podemos discordar e evoluir! Ter uma mentalidade aberta para ouvir e crescer com a diversidade de ideias é uma fonte de alegria e contribui com o senso de importância do ambiente de trabalho e da família.

O problema é que nem sempre pensamos desse jeito. Quando alguém discorda de nós, é mais fácil tentar convencer a pessoa a se converter ao nosso ponto de vista, do que trabalhar a possibilidade de estarmos equivocados e mudar de opinião. No ambiente de trabalho, isso fica ainda pior, quando o chefe dá uma “carteirada” de dono da área e faz com que o assunto termine de forma mal resolvida. Ninguém é feliz "engolindo sapo".

Para falar da terceira parada, a formação, existe um provérbio judaico que ilustra bem esse conceito: “se cada um varrer a calçada de casa, logo teremos a rua limpa. Aqui a gente arregaça as mangas e segue para construir uma relação sem falsidade e brigas tolas. Vamos precisar de perseverança... A ideia é que as boas práticas contagiam e formam famílias e empresas mais felizes. Ao contrário do que alguns pensam, o ambiente pode influenciar mais a nossa maneira de agir do que a personalidade. Como exemplo, pense no seu comportamento ao entrar em um museu. Construa ambientes saudáveis e prazerosos.

Por fim, para que se concretize a cultura da felicidade, é preciso organização. Até o universo respeita uma ordem; temos manhã, tarde e noite todos os dias. Imagine como seria a vida sem esse funcionamento? A organização fortalece o que foi e está sendo construído.

Por ora, precisamos entender que esse caminho não tem linha de chegada, gera ganhos incalculáveis nos níveis de respeito, honestidade e franqueza, tornando um mais um bem mais que dois. Como disse certa vez o poeta Thomas Steams Eliot: “Jamais cessaremos de explorar. E o fim de toda exploração será chegarmos ao ponto de partida e o conhecermos pela primeira vez.”

 

Cristiana Aguiar. Economista, especialista em Gestão de Pessoas. CEO da Jeito Certo Consultoria

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