ARTIGOS

Geopolítica da agressão

Por ADHEMAR BAHADIAN
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Publicado em 26/11/2023 às 17:46

Alterado em 26/11/2023 às 17:46

A troca de reféns entre Israel e o Hamas é um sopro de fada nos gestores diabólicos da geopolítica da agressão.

Geopolítica que se desnuda a cada dia e, por maiores sejam seus esforços para se alinhar com as esperanças de tranquilidade, criatividade e harmonia, tão necessárias neste século 21, mais evidencia seu real compromisso com a desigualdade social, com o capitalismo neoliberal canibalístico e com regressividade civilizacional, às vezes em diferentes tons negros de espiritualidade e religiosidades propensas mais ao ódio do que ao amor.

Não mais. O horror exposto nas televisões mundo afora há de ter deflagrado em todos nós a vergonha de sermos humanos, destruidores de vidas de bebês inocentes, a nos lembrar Herodes em sua fúria de matar o filho de Deus. Não só. A última sessão de cinema do Conselho de Segurança das Nações Unidas, quando a resolução proposta pelo Brasil foi vetada pelo país-líder do mundo ocidental terá suscitado em nós a convicção de que caminhávamos em marcha batida para a aniquilação não só do planeta, mas de nossa vida nele e tudo que em milênios expusemos como civilização em nossos museus e em nossos livros de Historia. Nos apequenamos como pigmeus incultos, bárbaros dotados de uma inteligência tão monetizada quanto estúpida. Inteligência artificial?

Mas, talvez a retórica grandiloquente e totalitária igualmente retomada por candidato à reeleição nos Estados Unidos da América tenha sido o arranhar do giz no quadro-negro. Nela se evidencia a proposta de aprofundamento da geopolítica da agressão, do desrespeito aos direitos fundamentais, o ressurgimento do neoliberalismo predatório, o ódio aos imigrantes, o racismo de pele e de alma, a marcha da barbárie com trompas e cornetas em uníssono a tocar os si bemóis maiores da violência.

E finalmente, o gigante, no que nele ainda existe de civilizatório e democrata, se moveu. Um passo silencioso, mas que terá deixado marcas profundas nos solos em que pisou. A trégua humanitária se deve ao gigante, finalmente tocado pelo grito apertado de todos os cantos da terra em clara condenação à barbárie.

Em particular, de especial significado é o aparecimento nos Estados Unidos da América de grupos de juristas conservadores, muito deles ex-membros de governos republicanos a remontar a Reagan, decididos a alertar os seus co-cidadãos e em especial os conservadores racionais a acordarem para a luz vermelha que se acende em direção à humanidade caso o candidato da extrema direita, seu principal boneco de ventríloquo, seja eleito. Será um mandato de regressão histórica que não podemos permitir a nossos filhos e netos que jamais nos perdoarão pela irracionalidade ou pelo desespero.

E aqui mais uma vez, a política externa de Lula, tão amesquinhada pelos ventríloquos locais - que temos, infelizmente - é particular destino. Lula, que, nesta semana irá se encontrar com chefes de Estado, talvez possa possa regar a semente de bom senso que começa a vicejar.

Talvez seja a hora de promover encontros políticos do G-7, do G-20 conjuntamente com os Brics com o objetivo de coligir um decálogo de cláusulas pétreas do Direito Internacional para encaminhamento a todos os povos amantes da paz por intermédio, se possível, de um manifesto do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

E em consequência, convidar Israel e os Palestinos a retomarem as negociações de Paz hoje definitivamente sabotadas pelo governo de turno em Israel.

Biden certamente relutará a princípio, mas tenho certeza que a lucidez que sua idade cronológica propicia fará com que mova sua imensa máquina do State Department.

É hora de botar os gaviões em suas jaulas. Douradas.

 

Adhemar Bahadian. Embaixador aposentado

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