MEIO AMBIENTE
Presidente da COP diz que países querem tirar evento de Belém: ‘Hotel está 15 vezes o valor normal’
Por JB AMBIENTAL com Agência Estado
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Publicado em 01/08/2025 às 08:03

Por Denise Luna e Gabriela da Cunha - Em entrevista a correspondentes estrangeiros, o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-30), disse que alguns países pediram que a reunião da cúpula, marcada para ocorrer entre os dias 10 e 21 de novembro, não seja mais realizada em Belém, no Pará, por causa dos preços dos hotéis. Lago, inclusive, admitiu que alguns estabelecimentos estão cobrando até 15 vezes o valor normal das diárias.
“Tornou-se público que diversos países do grupo que conforma a administração da Convenção do Clima, que se chama Bureau, manifestaram de fato e saíram a público para dizer que a questão do preço dos hotéis é uma preocupação. De fato, representantes de regiões pediram para tirar a COP de Belém numa reunião anteontem (terça-feira)”, disse Lago.
O embaixador reconheceu que os hotéis geralmente aumentam os preços em todas as COPs que já foram realizadas, mas que em Belém está havendo um movimento extorsivo.
“Se na maioria das cidades onde as COPs aconteceram os hotéis passaram a pedir o dobro ou triplo do valor, no caso de Belém estão pedindo mais de 10 vezes. Então, há uma sensação literalmente de revolta dos países por essa insensibilidade, sobretudo por parte dos países de menor desenvolvimento, que estão dizendo que não poderão vir à COP por causa dos preços extorsivos e abusivos. De fato os preços de Belém estão completamente abusivos, mais de 10 vezes e, em vários casos, 15 vezes o valor que os hotéis normalmente cobram”, disse.
Segundo Lago, há um esforço do governo, liderado pela Casa Civil, para conseguir convencer os hotéis de Belém a baixarem os preços para o evento. “A legislação brasileira não permite impor os preços, mas eu acredito que os hotéis não estejam se dando conta da crise que eles estão provocando e isso se tornou público na declaração do Richard (Muyungi), que representa os países africanos, no momento que ele deu uma entrevista para a Reuters e ficou público que os países estão pedindo para o Brasil tirar a COP de Belém", disse o embaixador.
À agência Reuters, Muyungi, presidente do Grupo Africano de Negociadores, afirmou que outra reunião em 11 de agosto deve discutir novamente a questão da hospedagem durante a COP. “O Brasil tem muitas opções em termos de ter uma COP melhor, uma boa COP. Por isso, estamos pressionando para que o Brasil forneça respostas melhores, em vez de nos dizer para limitar nossa delegação”, disse Muyungi.
Como o Estadão mostrou, algumas delegações internacionais já haviam oficialmente falado em redução das delegações, por causa dos custos. A hospedagens também foi alvo de uma série de questionamentos em comunicações oficiais entre representações diplomáticas.
Rio-92
No encontro com correspondentes estrangeiros, o embaixador brasileiro ressaltou que a cúpula faz parte de um processo que começou na década de 1990, com a Rio-92, e que acontece no momento em que serão publicadas as Contribuições Nacionalmente Determinadas" (em inglês, “Nationally Determined Contributions”, NDC) até 2035. “A Cúpula vai nos mostrar o quão perto ou longe estamos do limite de 1,5 °C de aumento na temperatura global."
Lago, que tem enfatizado que a cúpula do Brasil deve ser lembrada pela implementação de soluções e tecnologias já existentes, para que se avance num novo modelo econômico baseado em um baixo carbono, enfatizou que a Iniciativa Climática para Óleo e Gás (OGCI) será convidada para os espaços de negociação, a chamada Zona Azul.
“Precisamos de muito mais recursos para a transição energética e, não há dúvidas, que esse é um dos esforços para viabilizar os investimentos necessários nestes projetos”, pontuou a jornalistas. “A forma como o mundo precisa lidar com os fósseis é algo que precisa ser feito na COP30”, acrescentou.
O presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás (IBP), Roberto Ardenghy, endossou que existe o compromisso do setor de óleo e gás com o processo de descarbonizar as suas atividades e estudar maneiras de se financiar a adição energética. “Não queremos estar fora dos debates”, enalteceu. Em sua avaliação, a transição energética não pode ser mais um fator de desequilíbrio mundial e nem de ampliação da pobreza energética.
“O mundo vai continuar aumentando seu consumo energético nos próximos anos e os combustíveis fósseis entregam um serviço importante para várias economias, barato e seguro. É preciso pensar o uso dos combustíveis fósseis mais focados ao setor industrial, como o setor petroquímico e o de fertilizantes, por exemplo”.