JUSTIÇA
Jurista classifica derrubada do decreto do IOF como "inconstitucional"
Por JB JURÍDICO com Revista Fórum
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Publicado em 27/06/2025 às 06:08
Alterado em 27/06/2025 às 08:46

Por Marcelo Hailer - O advogado e pesquisador Pedro Serrano, uma referência brasileira no Direito Constitucional e Público, usou as redes sociais nessa quinta-feira (26) para afirmar que a decisão do Congresso Nacional, que derrubou a atualização do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), é "inconstitucional".
"O decreto legislativo de suspensão de ato regulamentar do Executivo só se presta para a defesa da competência do Legislativo, suspendendo ato que inove primariamente a ordem jurídica, não se prestando para suspender atos de mera execução ou modulação da Lei. O DL do IOF me parece claramente inconstitucional", declarou Serrano.
Haddad envia recado para o Congresso após derrubada da atualização do IOF
Na noite de quarta-feira (25), a Câmara dos Deputados derrubou, por 383 votos a 98, o Decreto que atualizava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Em seguida, o Senado, em votação simbólica, confirmou a decisão da Câmara.
A derrubada do decreto presidencial sobre o IOF escancarou a crise entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional: de um lado, o governo federal afirma que a medida visava fazer justiça, do outro, pregou-se "corte de gastos", mas no mesmo dia aprovou-se uma medida que aumenta o número de deputados.
No entanto, a derrota do governo federal para o Congresso pode também ser uma oportunidade para fortalecer o debate sobre justiça fiscal no Brasil, nos moldes do que historicamente o Partido dos Trabalhadores defendeu: quem ganha mais, paga mais; quem ganha menos, paga menos impostos.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, percebeu a oportunidade de colocar o debate sobre justiça tributária e usou as redes sociais nesta quinta-feira (26) para enviar um recado para o Congresso Nacional e também para mostrar por onde o governo federal deve seguir em termos de disputa de discurso.
"O lema do presidente Lula: o rico no Imposto de Renda, o pobre no orçamento. Hoje nós temos o pobre no Imposto de Renda e o rico no orçamento. Nós temos um país às avessas. Nós estamos defendendo que o rico que não paga imposto passe a pagar. Quem discorda disso?", questiona Haddad.
O ministro continua: "O rico que não paga imposto tem que começar a pagar. Eu não considero normal um dos dez países mais desiguais do mundo aceitar que quem tem mais de R$ 1 milhão de renda anual pague uma alíquota de Imposto de Renda de 2,5%, em média. Quando a professora da escola pública paga 10%. O policial paga 10%."
Confira a íntegra do discurso de Haddad no vídeo abaixo:
Hoje nós temos o pobre no imposto de renda e o rico no orçamento. Nós estamos defendendo que o rico que não paga imposto passe a pagar. Quem discorda disso? pic.twitter.com/4lB4OCZRpi
— Fernando Haddad (@Haddad_Fernando) June 26, 2025
Câmara derruba decreto do IOF e R$ 10 bi de emendas devem ser congeladas
Conforme esperado, o Decreto presidencial que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) foi derrubado pela Câmara dos Deputados por 383 votos a 98, evidenciando uma base totalmente fragilizada.
O Senado também derrubou o decreto presidencial sobre o IOF em uma votação simbólica, que contou apenas com votos contrários dos senadores petistas.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estuda judicializar a questão e acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para reverter o quadro.
Gleisi alerta Motta: 'R$ 9,8 bilhões de emendas serão congeladas'
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, usou as redes sociais para explicar ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e ao Centrão, como um todo, que derrubar o decreto do IOF resultará no congelamento de quase R$ 10 bilhões em emendas parlamentares.
Para Gleisi, "O Decreto do IOF reflete o esforço do governo de construir entendimento com o Congresso Nacional, atenuando os impactos do decreto editado anteriormente;"
"O Decreto tem natureza regulatória, apesar das consequências fiscais. Não há qualquer base jurídica para o PDL; A arrecadação prevista para 2025, que era de R$ 20 bilhões no decreto anterior, caiu para R$ 12 bilhões com o novo Decreto; A proposta não interfere sobre fluxos de capital estrangeiro", afirmou a ministra.
Gleisi continua: "A proposta padroniza a tributação de operações de crédito com pessoas físicas e pessoas jurídicas. A derrubada do decreto levaria pessoas físicas a pagarem alíquota diária de IOF duas vezes maior do que a aplicável a pessoas jurídicas; O Decreto contribui para reduzir elisão fiscal e eliminar distorções no funcionamento do mercado de crédito para grandes empresas; Padroniza distintas alíquotas que eram aplicadas sobre operações cambiais com meios de pagamento similares e prejudicavam a escolha dos instrumentos mais eficientes, adotando carga tributária (3,5%) inferior à vigente até 2022 (6,38%)."
Em outro momento, Gleisi explica que "A derrubada do decreto reduzirá a receita de 2025 em R$ 10 bilhões, colocando em risco o cumprimento da meta de resultado primário em 2025; Para 2026, a derrubada do decreto pode dificultar a meta de resultado primário em R$ 30 bilhões; Para compensar essa perda de receita, o bloqueio e contingenciamento, que já são de R$ 31 bilhões, tudo o mais constante, terá que ser elevado para R$ 41 bilhões, resultando em risco de paralisação de programas como Auxílio Gás, Assistência Social, Minha Casa Minha Vida, Pé de Meia, entre outros."
A ministra conclui afirmando que "as emendas parlamentares também serão afetadas pela derrubada do Decreto. Em 2025, o contingenciamento adicional de emendas será de R$ 2,7 bilhões, somando-se aos R$ 7,1 bilhões já contidos, resultando no total de R$ 9,8 bilhões. Em 2026, considerado apenas o efeito dessa medida, a derrubada do decreto resulta em perda de R$ 7,1 bilhões para as emendas parlamentares."
SOBRE O DECRETO DO IOF
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) June 25, 2025
O Decreto do IOF reflete o esforço do governo de construir entendimento com o Congresso Nacional atenuando os impactos do decreto editado anteriormente;
O Decreto tem natureza regulatória, apesar das consequências fiscais. Não há qualquer base jurídica…
Haddad reage à traição de Hugo Motta: 'Decreto do IOF corrige injustiça'
Os líderes do governo Lula (PT) foram surpreendidos pelo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), que, às 23h de terça-feira (24), usou as redes sociais para informar que pautaria o PDL que susta o decreto que aumenta o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Boa noite!
— Hugo Motta (@HugoMottaPB) June 25, 2025
Nesta quarta-feira, 25 de junho, a pauta da Câmara dos Deputados incluirá os seguintes temas:
1?? PDL do IOF que susta o decreto que aumentou o Imposto sobre Operações Financeiras.
2?? MP 1291 que autoriza uso de até R$ 15 bi/ano do Fundo Social para habitação popular…
Diante dessa situação, parlamentares ligados ao governo federal acusam Hugo Motta de quebrar uma série de acordos estabelecidos durante um jantar realizado há uma semana. Especificamente sobre a pauta do PDL, afirmam que havia sido combinado um prazo de duas semanas, o que também não foi cumprido por Motta.
Ao tomar conhecimento de mais uma traição de Hugo Motta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a defender o aumento do imposto sobre o IOF e afirmou que ele traz "justiça".
"O decreto do IOF corrige uma injustiça: combate a evasão de impostos dos mais ricos para equilibrar as contas públicas e garantir os direitos sociais dos trabalhadores", disparou Fernando Haddad.
O decreto do IOF corrige uma injustiça: combate a evasão de impostos dos mais ricos para equilibrar as contas públicas e garantir os direitos sociais dos trabalhadores.
— Fernando Haddad (@Haddad_Fernando) June 25, 2025
'Provocação infantil': Lindbergh reage ao conchavo de Motta e bolsonaristas sobre IOF
O governo Lula e o líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (PT-RJ), reagiram ao conchavo entre o presidente da casa legislativa, Hugo Motta (Republicanos-PB) e bancada comandada por Jair Bolsonaro (PL), que tenta derrubar a proposta de mudança nas alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Nas redes sociais, a ministra Gleisi Hoffmann, de Relações Institucionais, lembrou o diálogo do governo com o parlamento sobre o tema, que "traz ajustes necessários para a execução do Orçamento de acordo com o arcabouço fiscal aprovado pelo Congresso".
"Quando falam em aumento de imposto, é preciso lembrar que o IOF para cartões internacionais era de 6,38% em 2022 e está sendo fixado em 3,5% pelo decreto, depois de duas quedas consecutivas na alíquota. No diálogo com o Congresso, o governo retirou ajustes que incidiriam sobre outras operações. A derrubada dessa medida exigiria novos bloqueios e contingenciamentos no Orçamento, prejudicando programas sociais e investimentos importantes para o país, afetando inclusive a execução das emendas parlamentares", afirmou, focando no principal foco de chantagem dos deputados com o governo: a liberação das emendas parlamentares.
Já o líder do PT deu uma entrevista coletiva em que classifica como "provocação infantil" o acordo feito com o líder do Pl, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) - braço político de Silas Malafaia -, de colocar o bolsonarista Coronel Chrisóstomo (PL-RO) como relator do Projeto de Lei para sustar a mudança no IOF, que foi colocado por Motta na pauta de votação da Câmara nesta quarta-feira (25).
"Colocar o coronel Crisóstomo como relator parece uma provocação infantil", disse Lindbergh. "Eu falei de provocação infantil a nomeação do coronel Crisóstomo, significa dizer que não há negociação, que não há nenhum tipo de intermediação. Nós vamos votar o mérito já de forma muito clara, ele com a posição que todo mundo sabe aqui, que é pela derrubada integral do mérito", emendou mais adiante.
O líder do PT revelou ainda que a reunião para pautar o projeto aconteceu às 23h35 desta terça-feira (24) e o tema será votado em sessão virtual, sem o debate em plenário.
"Eu acho que é uma temeridade do presidente Hugo Mota pautar um tema de tamanha importância sem deputados aqui em Brasília", afirmou.
Lindbergh ainda falou que o conchavo entre Centrão e bolsonaristas para pressionar por mais cortes em projetos sociais é uma "marcação de posição contra o governo" e antecipa 2026.
"Essa marcação de posição contra o governo nesse momento, dessa forma, eu acho muito ruim. Como eu acho ruim a gente antecipar o debate de 2026. 2026 tem que ser tratado em 2026. Eu vejo que há alguns setores tentando atrapalhar, inviabilizar o governo do presidente Lula, porque os cortes vão ser grandes, em programas importantes", disse.
"Você acha que o presidente Lula fica feliz em cortar o Minha Casa Minha Vida, de cortar recursos da educação, da saúde num momento como esse? Então eu acho o seguinte, que não é correto tentar antecipar o calendário eleitoral, como impondo uma derrota ao governo e prejudicando todo o país, nós não vamos aceitar que tentem paralisar o governo do presidente Lula", emendou.
'Sangrar' Lula
Os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), deram início ao projeto do Centrão, aliado à chamada Terceira Via - que une ainda Faria Lima e mídia liberal -, para iniciar o "sangramento" de Lula para favorecer Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) na disputa presidencial em 2026.
A antecipação da disputa presidencial com pautas-bomba no Congresso é articulado pelo ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro (PL), o senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, e por Antônio Rueda, que comanda o União Brasil.
As duas siglas se uniram em abril em uma federação em abril, que hoje conta com a maior bancada na Câmara, com 104 deputados, além de 14 senadores.
Nogueira e Rueda iniciaram um levante para cooptar quadros do centrão e a direita para antecipar as eleições e implodir a base do governo, que conta com partidos de centro, a partir do segundo semestre de 2026, antecipando em mais de um ano a disputa eleitoral.
Nesta terça-feira (24), os dois se reuniram com os presidentes do Republicanos, Marcos Pereira, e do MDB, Baleia Rossi, para articular a adesão das duas siglas, que têm cargos no governo Lula - o PP também comanda uma pasta, de Esportes, com André Fufuca (PP-MA).
“Em primeiro lugar, queremos alinhar os palanques estaduais para as eleições do próximo ano; em segundo, ter uma atuação conjunta no Congresso. Isso é importante para fazer uma frente desses quatro partidos", disse Nogueira à jornalista Vera Rosa, do Estadão, confirmando a articulação com o Congresso.
“O governador Tarcísio só vai ser candidato à sucessão de Lula se tiver o apoio do presidente Bolsonaro lá na frente. Agora, eu defendo que os nossos partidos escolham o mesmo nome para podermos estar juntos na campanha”, emendou Nogueira, ciente que Bolsonaro já desistiu da disputa em razão da inelegibilidade e iminente prisão.
Bolsonaro já tem procurado postulantes da direita como o próprio Tarcísio e Ronaldo Caiado (União-GO) para trocar o apoio da bancada e de sua base de votos pelo indulto a quem vença Lula e chegue ao Planalto. O ex-presidente também tem interesse em montar uma base forte no Senado para levar adiante o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) considerados inimigos pelo clã, como Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Gilmar Mendes.
Pautas-bomba
Após a reunião, já no fim da noite, às 23h35, Hugo Motta foi às redes anunciar a pauta-bomba da sessão da Câmara nesta quarta-feira (25), que dá início ao "sangramento" de Lula.
Motta surpreendeu até deputados oposicionistas ao pautar, entre outros, o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que enterra definitivamente a proposta do governo de elevar o Imposto de Operações Financeiras, o IOF, para fazer o ajuste das contas públicas - como ele próprio e a terceira-via cobram na frente das câmeras.
A pauta ainda inclui o PL 2692/25, que isenta do Imposto de Renda quem ganha até dois salários mínimos - na prática adiando a proposta do governo de isentar àqueles que ganham até R$ 5 mil, que está sendo relatada por Arthur Lira (PP-AL) em Comissão Especial.
Além disso, Motta sinaliza à indústria do petróleo com a "MP 1291 que autoriza uso de até R$ 15 bi/ano do Fundo Social para habitação popular e permite ao governo leiloar óleo e gás excedente, com potencial de arrecadar até R$ 20 bi" e a Faria Lima, com a "MP 1292 que permite a contratação de crédito consignado por trabalhadores do setor privado".
O início da pressão sobre o governo Lula foi comemorado pelo Líder do PP na Câmara, sinalizando o conchavo do Centrão. "O Presidente da Câmara dos Deputados Hugo Motta tem a prerrogativa de estabelecer a pauta da Câmara e o Plenário soberano e democrático de votar as matérias conforme o sentimento da população Brasileira. Vamos ao voto", publicou no X já na madrugada desta quarta-feira, às 1h05.