JUSTIÇA

Alexandre de Moraes não se intimida com general e enquadra ex-comandante do Exército publicamente

Ministro relator da ação judicial penal que trata da tentativa de golpe de estado ficou indignado com a contradição do depoente

Por JB JURÍDICO com Revista Fórum
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Publicado em 19/05/2025 às 19:40

Alterado em 19/05/2025 às 19:44

Ministro Alexandre de Moraes: aborrecido Foto: STF

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Por Henrique Rodrigues - Alexandre de Moraes não se intimida ou recua de seu papel institucional. Relator da ação penal que apura a tentativa de golpe para impedir a posse do presidente Lula (PT), o ministro do Supremo Tribunal Federal deu uma advertência enérgica no general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, durante seu depoimento nesta segunda-feira (24). Visivelmente irritado, Moraes interrompeu a fala do general ao identificar contradições entre o que ele dizia em juízo e o que já havia afirmado à Polícia Federal. As informações são da colunista Malu Gaspar.

O general tentou sustentar, de forma meio evasiva, que o almirante Almir Garnier Santos, então comandante da Marinha, não se colocara à disposição de Jair Bolsonaro (PL) para apoiar um golpe de Estado. Quando questionado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, o ex-comandante disse que o colega “apenas demonstrou respeito ao presidente” e que não expressou opinião naquele momento.

"Eu e o brigadeiro Baptista Júnior nos colocamos contrários ao assunto. Não me recordo da posição do ministro da Defesa. O almirante Garnier disse que estava com o presidente. O que isso significava exatamente, não me cabe dizer. Mas eu não omiti dado”, disse o general.

Antes disso, diante da pergunta sobre a postura de Garnier nas conversas com Bolsonaro, o general tentou se esquivar e relativizou os eventos. Afirmou que o presidente convocava reuniões nas quais os presentes se manifestavam quando questionados, e que ele mesmo priorizava “avaliar todas as condicionantes” de uma eventual decisão antidemocrática.

O relato começou a gerar tensão quando Freire Gomes afirmou que estava focado em apresentar seu ponto de vista ao presidente, reiterando que Baptista Júnior se opôs a qualquer ação golpista, que o então ministro da Defesa permaneceu em silêncio, e que o então chefe da Marinha apenas manteve sua lealdade institucional ao presidente.

Nesse momento, Moraes interveio. Visivelmente impaciente com a tentativa de evasão, o relator do processo interrompeu o depoimento de forma incisiva.

“Quero advertir a testemunha. Ela não pode omitir o que sabe. Vou lhe dar a chance de dizer a verdade. Não pode, diante do STF, dizer que não lembra, que talvez, que estava focado apenas no que pensava. A testemunha é general do Exército, foi comandante do Exército, está preparada para lidar sob tensão, tanto em interrogatório policial quanto aqui”, disparou Moraes, elevando o tom.

A irritação do ministro se intensificou ao lembrar que o depoimento prestado anteriormente por Freire Gomes à Polícia Federal trazia informações muito mais claras e contundentes sobre a tentativa de golpe.

“Vossa Senhoria disse à PF que o depoente e o brigadeiro Baptista Júnior foram contrários ao conteúdo exposto, que não havia suporte jurídico para qualquer atitude. Disse ainda que o almirante Garnier se colocou à disposição do presidente da República. Ou mentiu à Polícia ou mente aqui”, alertou Moraes.

A defesa de Freire Gomes tentou exibir trechos do depoimento anterior na videoconferência. A tentativa foi rechaçada com veemência. Moraes ironizou a estratégia: “Não posso acreditar que Vossa Excelência não tenha conversado com seu cliente antes e pedido para ele reler o que disse à Polícia.”

Depois de levar uma “dura” e diante da repetição da pergunta por Paulo Gonet, sobre o papel de Garnier na conspiração, Freire Gomes procurou ser “mais claro”.

“Ele disse que estava com o presidente”, disse.

A contundência de Moraes demonstra que, mesmo diante de generais, o ministro não recua. No Supremo, a expectativa é de que o julgamento que definirá o futuro judicial de Bolsonaro ocorra até setembro, ou no máximo outubro. A ação penal trata do núcleo central da tentativa de golpe que buscou impedir a posse de Lula e de Geraldo Alckmin.

Na audiência desta segunda-feira, que não está sendo transmitida por nenhum canal, também prestaram depoimento Clebson Ferreira de Paula Vieira, ex-integrante do Ministério da Justiça; Adiel Pereira Alcântara, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal; e Éder Lindsay Magalhães Balbino, empresário contratado pelo PL para fiscalização das urnas.

A maratona de oitivas teve início com perguntas a Éder Balbino sobre a elaboração do relatório do PL que tentou deslegitimar o resultado da eleição presidencial de 2022. As defesas dos réus buscaram afastar seus clientes do documento. Questionado, Éder negou qualquer contato com os ex-ministros da Defesa ou da Justiça durante a confecção do material.

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