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Trump: leão com Zelensky, tchutchuca com Putin

Analista aponta Trump cordial e menos tenso com o russo em comparação ao encontro com o uctaniano

Por INFORME JB com Sputnik
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Publicado em 16/08/2025 às 08:27

Alterado em 16/08/2025 às 08:46

Comportamento cordato de Trump frente a Putin chamou atenção Foto: reprodução

Por Davi Carlos Acácio e Angélica Fontella - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, viajou até o Alasca para encontrar o presidente dos EUA, Donald Trump, nesta sexta-feira (15). Simbolismos presentes na recepção para o mandatário russo mostram, segundo analista ouvida pela Sputnik Brasil, um encontro muito menos tenso do que foi entre Trump e Vladimir Zelensky.

Putin foi recebido com tapete vermelho pelos norte-americanos. Os aviões dos dois líderes chegaram ao aeroporto de Anchorage em horários próximos e saíram juntos no mesmo carro. Esses detalhes são simbólicos, segundo Raquel dos Santos, professora de relações internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Os Estados Unidos não só sancionaram a Rússia, como aplicaram sanções individuais ao presidente russo. Ainda assim, Putin foi recebido com um enorme tapete vermelho. "Ele [Putin] é colocado novamente dentro desse círculo de poder ocidental, mesmo que a gente possa questionar a profundidade dessa iniciativa", diz a especialista.

Além disso, Santos comenta que a recepção e os primeiros detalhes mostram um clima muito menos tenso do que o encontro protagonizado por Trump com o ucraniano Vladimir Zelensky em fevereiro deste ano, em um episódio de discussões calorosas.

"A gente tem outro momento de uma posição muito mais cordial entre os dois, nesse primeiro momento e, também, posteriormente. Quando eles se sentam muito brevemente naquela sala de recepção dos representantes dos respectivos governos, eles também estão numa postura relativamente menos tensa do que foi o encontro entre o Trump e o Zelensky", ressalta.

ONU celebra encontro

O secretário-geral da ONU, António Guterres, saúda a cúpula entre EUA e Rússia no Alasca, disse o porta-voz, Stephane Dujarric, à Sputnik

"Tomamos nota da cúpula de sexta-feira no Alasca entre os presidentes dos Estados Unidos e da Federação da Rússia. Saudamos a continuidade do diálogo construtivo entre os Estados-membros", informou o representante.

Segundo ele, Guterres reitera seu apelo por um cessar-fogo imediato, total e incondicional como um primeiro passo em direção à paz na Ucrânia.

"As Nações Unidas estão prontas para apoiar todos os esforços significativos para esse fim", concluiu o porta-voz.

O encontro entre Putin e Trump ocorreu na base militar de Elmendorf-Richardson, em Anchorage, Alasca. As conversas foram realizadas em um formato restrito, "três contra três", e duraram duas horas e 45 minutos.

A reunião contou com a presença do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, e do assessor presidencial russo, Yuri Ushakov, do lado russo, e do secretário de Estado, Marco Rubio, e do enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, do lado americano.

Cúpula é vitória para Putin

Por Lucas Ferreira - Em entrevista ao programa Entretanto, da Rádio Sputnik Brasil, especialistas entendem que o encontro entre presidentes no Alasca pode marcar uma nova página da relação entre Rússia e Estados Unidos.

Especialistas ouvidos acreditam que essa cúpula é uma vitória política para Putin e que pode ser a chave para que Trump entenda a real dimensão das derrotas da Ucrânia no campo de batalha.

O cientista político André Lucena afirma que os presidentes nunca tiveram uma relação pessoal hostil, apesar da conduta dos Estados Unidos nos últimos anos perante a Rússia. Todavia, o especialista entende que esse encontro foi uma grande oportunidade para Moscou mostrar força.

"Diria que a simples realização dessa cúpula já mostra que ele [Putin] conseguiu algo que almeja há muito tempo, que é um reconhecimento ocidental do peso geopolítico estratégico da Rússia. Em outros termos, o Putin está sentado na mesa de negociação, colocando a Rússia como um ator político importante."

Lucena questiona se Trump é um aliado confiável, levando em consideração a atual política externa norte-americana. Apesar da pontuação, o analista entende que este pode ser um ponto favorável ao presidente da Rússia.

"Seria o Trump um aliado confiável? Ele já repreendeu [Vladimir] Zelensky há muito tempo, ele já elogiou e repreendeu Putin. Ou seja, essa contradição do Trump faz com que o interlocutor dele — neste momento a gente está falando do Putin — possa não ter tanta fé na própria palavra que Trump manifesta. E eu acho que isso põe o próprio Putin em posição de poder."

O analista geopolítico Rafael Machado acredita que a chave para o fim da operação militar especial na Ucrânia é fazer com que Trump perceba o que acontece no campo de batalha do leste europeu. Segundo o especialista, as demandas ucranianas não condizem com as derrotas no front.

"Quando o Trump entender o que realmente está acontecendo e que, por exemplo, para cada baixa russa há dez baixas ucranianas, só aí que ele vai entender como as demandas ucranianas não são demandas realistas. E que, óbvio, mesmo que ambos lados tenham que ceder alguma coisa, a Ucrânia vai ter que ceder muito mais do que a Federação da Rússia, porque a Rússia está em plena e ampla vantagem em relação à Ucrânia nesse conflito."

Machado afirma que, além da Ucrânia, os presidentes devem discutir sobre as sanções aplicadas à Rússia durante o governo do democrata Joe Biden. Ainda que caiam as restrições norte-americanas, Moscou precisa lidar com a União Europeia e o ódio enraizado pelo país no continente.

"Existe um fator ideológico nessa insistência da União Europeia em uma beligerância em relação à Rússia que vai muito além de meros interesses materiais. [...] Ao decidir seguir o próprio caminho e não aceitar esse expansionismo ocidental, esse imperialismo que é também o imperialismo cultural do Ocidente, a Rússia acaba sendo efetivamente odiada. Não é apenas uma questão de interesses materiais, porque pelos interesses materiais a Europa já teria cessado o seu apoio à Ucrânia."

Ainda que um rascunho de cessar-fogo não tenha sido alcançado nessa reunião no Alasca, Lucena acredita que a Rússia, nesse triângulo com EUA e Ucrânia, seja quem deva se preocupar menos com a questão de tempo.

"Uma Ucrânia em desespero, um Donald Trump apressado e uma Rússia em uma relativamente confortável posição de espera. E se a gente põe esse triângulo em cima de uma mesa, existe alguém que tem necessidades para ontem e existe um outro lado que não tem uma necessidade tão apressada assim. Isso, qualquer que seja o resultado dessa negociação, de saída, põe uma vantagem sobre quem o cronômetro não gira tão rápido." 


Trump, Zelensky e Vance no Salão Oval da Casa Branca: cizânia Foto: Reuters/Brian Snyder

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