
INFORME JB
Lentidão das obras da BR-040 em Petrópolis lembra o tempo das diligências
Por GILBERTO MENEZES CÔRTES
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Publicado em 02/05/2025 às 05:36
Alterado em 02/05/2025 às 05:38

O Ministério dos Transportes leiloou finalmente nessa quarta (30), na B3, a concessão para a retomada das obras de 80 km para duplicação da BR-040 (Rio-Juiz de Fora) na subida da serra de Petrópolis, paradas desde 2016. Há nove anos.
Depois de atravessar os governos Temer e Bolsonaro sem qualquer atividade, com brigas do antigo consórcio liderado pela Triunfo, que administra a Concer, desde 1995, não será no governo Lula III que as obras serão retomadas.
Os cariocas que têm propriedades na região serrana e sonham com a promessa de uma estrada mais moderna, segura e que reduza em mais de 20 minutos o tempo entre o Rio de Janeiro e Itaipava, vão ter de redobrar a paciência. As obras só começarão em 2028 e a conclusão dos trechos abandonados, que incluem um túnel e viadutos, está prevista para 2030.
Lideranças do RJ pouco reclamam
O que mais chamou a atenção durante os nove anos em que as obras ficaram paradas foi apatia das lideranças empresariais e políticas do Estado do Rio de Janeiro.
Embora a estrada seja vital para o turismo, o lazer e a economia do estado, por ser a principal rota de integração das atividades econômicas fluminenses e mineiras com o porto do Rio de Janeiro, nunca se viu maior empenho das classes empresariais e dos governadores, senadores e deputados federais com representação no Congresso Nacional.
No ES, todos se unem
No vizinho Espírito Santo, as lideranças empresariais e políticas se empenharam fortemente para que o governo federal dar prioridade ao leilão de modernização da Estrada de Ferro 118, ligando o interior do estado e Minas Gerais aos portos da grande Vitória, também realizado ontem, na B3.
O empenho das lideranças fluminenses para a extensão da linha até o porto do Açu, em São João da Barra, foi bem mais fraco. E a quase inexistente pressão para que a 3ª etapa da linha férrea ligando a área do Açu a Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, com virtual acesso ao Porto de Itaguaí, foi tal que o governo deixou para outra oportunidade o 3º trecho. Ou para as calendas.
D. Pedro II fez ligação mais rápida
A primeira ligação entre Petrópolis e Juiz de fora, chamada de União-Indústria, foi projetada no Império, em 1854, e teve as obras iniciadas em 1856.
Pois já em 1º de junho de 1861, o Imperador D. Pedro II fez a travessia de 144 kms em diligência. sobre a primeira estrada brasileira com pavimento de macadame (leito de pedra compactada que hoje usa piche e pedra britada). A invenção foi feita em 1820 pelo engenheiro escocês, John Loudon MacAdam.
Na República, a União-Indústria tornou-se, no pós-guerra, uma das primeiras estradas asfaltadas do Brasil. O asfalto foi fornecido pela americana Texaco. Em troca, a petrolífera do Texas ganhou a concessão de todos os postos de combustíveis à margem da rodovia, entre Petrópolis e Juiz de Fora
Reforma completa, só em 2031
O traçado definitivo, com três pistas de subida e dois novos túneis, de 620 metros, está prometido para 2031, daqui a seis anos. Depois, o consórcio vencedor, liderado pela empreiteira paulista Construcap e integrado pelas espanholas Copasa e OHLA, que deram desconto de 14% (o 2º colocado ofereceu 3,8%) terá de reformar a antiga Rio-Petrópolis como “estrada turística”.
Mas a Concer resiste
O detalhe é que o consórcio Concer, liderado pelo grupo Triunfo, com 61% das ações, tinha a Construcap como o 2º maior acionista, com 18% das ações. Os demais sócios são as construtoras Metropolitana (11%) e CMI (9%).
Ou seja, a Construcap tem suficiente conhecimento sobre os imbróglios do traçado que levaram a Concer bater de frente com o DNITT e o BNDES, exigindo correção de mais de R$ 300 milhões pelo descompasso no contrato. O processo se arrastava desde 2016.A Concer ganhou e o pedágio sobe em agosto, de R$ 14,50 para R$ 20. Mas obra que é bom, só depois de três anos.
Voo alto derruba empreiteiras
Não foram só os processos da Lava-Jato que derrubaram as empreiteiras brasileiras (a Petrobras chegou a fazer uma lista negra de mais de três dúzias de empreiteiras e fornecedoras inabilitados por superfaturamento nas obras e encomendas de equipamentos). Mas a maioria já limpou o cadastro.
Muitos dos problemas da Triunfo, por exemplo, vieram da sua incursão nas concessões de aeroportos, como o de Viracopos (Campinas-SP), no governo Dilma. Uma coisa é construir um aeroporto, uma ferrovia, uma estrada ou um estádio de futebol. Protegidas pela reserva de mercado, nossas empreiteiras sempre foram hábeis em fazer projetos “em aberto” – venciam com preços baixos, contando com sucessivos aditivos, justificados pela inflação.
Bem diferente é a gestão de uma concessão de ferrovia, estrada, porto e, sobretudo aeroporto. A Camargo Correa, criadora da CCR (que administrava concessões de estradas e aeroportos) também enfrentou turbulências na gestão de terminais aéreos. E não foi só a redução do movimento na pandemia de 2020-2021, que só retornou a níveis anteriores em 2023.
Petrobras reabilita empreiteiras no Comperj
O mundo gira e a Lusitana roda. As empreiteiras nacionais, depois de forte enxugamento, pós Lava-Jato, que levou à demissão milhares de engenheiros e funcionários nos diversos escalões, incluindo o SPA da Recuperação Judicial, estão praticamente reabilitadas. Mais magras e com novos nomes.
O grupo Odebrecht, que liderava o ramo, trocou de nome para Novonor e está em RJ, a Camargo Correa, durante décadas a maior empreiteira do país, até ser desbancada pela Odebrecht nos anos 90, também saiu de várias áreas.
A maior prova da reabilitação veio, esta semana, na concorrência da Petrobras para as obras de expansão do antigo Comperj – Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, que foi atingido ao levantar voo pela crise financeira mundial de 2008, que derrubou os preços do petróleo e inviabilizou o projeto, gerando as maiores baixas contábeis da estatal e escandalosos superfaturamentos.
O Comperj agora se chama Complexo de Energias Boaventura (nome de antigo convento jesuíta em Itaboraí-RJ), após ter sido rebatizado de Pólo Gaslub, na tentativa da Petrobras de reescrever o passado e ajustar o projeto à nova realidade. Além de redistribuir 21 milhões de metros cúbicos/dia de gás natural da Bacia de Santos, já em operação, as obras de seis projetos preveem um pólo de óleos lubrificantes (12 mil barris/dia), o refino de 75 mil barris por dia de diesel S-10, e de 20 mil barris por dia de querosene de aviação (QAV-1).
Novos nomes, velhos conhecidos
O que chamou a atenção nos grupos concorrentes foi a presença de velhos conhecidos e que estavam na lista negra da Petrobras. Na gestão de Jean Paul Prates começou a reabilitação, com longo trabalho de “compliance”, que envolveu o ajuste interno das empreiteiras a novas práticas de transparência e lealdade nos negócios e ao pagamento de multas
A UTC Engenharia, que tinha o controle da Constran e atuava na área de petróleo e gás, sob a liderança do engenheiro Ricardo Pessoa, apontado pela Lava-Jato como chefe do cartel das empreiteiras que causou dados à estatal, participou de uma das concorrências de R$ 1,8 bilhão e perdeu.
A Andrade Gutierrez, agora rebatizada de Consag (Construtora Andrade Gutierrez) também foi derrotada em três concorrências, com propostas que somavam R$ 9,6 bilhões.
Dia dos Povos Indígenas
Neste final de semana, dias 3 e 4 de maio, o Museu da República, no Catete, abre as portas para mais uma edição do Dia dos Povos Indígenas, iniciativa promovida pela Associação Indígena Aldeia Maracanã (AIAM) com apoio do Museu da República. Será a 16ª edição do evento que celebra a diversidade cultural dos povos indígenas no Brasil, além de contribuir para a preservação da cultura e da história dos povos originários.
A entrada é gratuita e aberta a todos os públicos, das 9h às 17h.
Restauro do Museu do Índio
Durante o evento, também serão colhidas assinaturas da campanha “Restauro Já”, pelo restauro do prédio do antigo museu do índio, ao lado do estádio do Maracanã, para que seja transformado em centro cultural indígena aberto aos 305 povos originários que existem até hoje no Brasil.
O prédio tem grande importância histórica. Além de sediar o primeiro museu indígena das Américas, criado em 19 de abril de 1953, pelo Marechal Rondon e pelo antropólogo Darcy Ribeiro, foi sede do antigo SPI - Serviço de Proteção aos Índios que em 1976 deu origem a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).