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'Nem sabe o que é Hezbollah', diz advogado de brasileiro preso sob suspeita de terrorismo

Suspeitos detidos na Operação Trapiche, da PF, passaram por audiência de custódia, nesta sexta, e negaram ligação com o gruno fundamentalista islâmico

Por Gabriel Mansur
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Publicado em 11/11/2023 às 18:59

Alterado em 11/11/2023 às 19:40

Lucas Passos Lima e Jean Carlos de Souza foram presos sob suspeita de terrorismo Foto: Reprodução

Os dois brasileiros presos na Operação Trapiche, da Polícia Federal (PF), sob suspeita de serem recrutados e financiados pelo grupo Hezbollah, da Líbia, passaram por audiência de custódia nesta sexta-feira (10), em São Paulo. As investigações apontam que a dupla já estava recrutando outras pessoas para finalizar planos de atentados terroristas no país.

A história, porém, tem outro lado. Lucas Passos Lima, de 35 anos, e Jean Carlos de Souza, de 38 anos, negaram ligação com a organização. O advogado de Jean, José Roberto Timóteo, relatou que seu cliente sequer sabia o que é o Hezbollah.

"O Jean não sabia nem o que era Hezbollah. Ele perguntou para mim: 'Dr, eu já ouvi falar, mas o que é o Hezbollah?' Eu perguntei: 'Você está falando sério? Porque eu sou um advogado, e você tem de falar pra mim, lá na Justiça você pode mentir, eu vou te orientar, é outro papo, a gente vai fazer a defesa. Agora, para o seu advogado, você não pode inventar. Não sabe o que é Hezbollah, não?' Ele disse: 'Dr, ouvi falar, eu claro que fui à Turquia, ao Líbano, várias vezes, mas eu não sei o que é…'", diz o advogado ao Metrópoles.

Jean Carlos vive em Joinville, Santa Catarina. Ele disse que viaja com frequência porque trabalha com captação de negócios e sempre é parado pela Polícia Federal, mas nunca por algo como suposto envolvimento com grupos terroristas.

"Eu acho absurdo isso. Falar: 'Jean, você é participante de um Hamas, Hezbollah. Não sei como estão falando isso'. Estou preso, eu só queria um pouco mais de respeito em relação a isso. Não sou. Se chegar na minha família, eu não sou terrorista", afirmou.

O suspeito estava ao lado de uma lanchonete no Centro de São Paulo quando apareceram agentes da PF e lhe deram voz de prisão. Ele pôde apenas voltar ao hotel para pegar suas malas antes de ser encaminhado para a custódia da PF em São Paulo.

De lá, ele ligou para um tributarista de sua confiança, que indicou José Roberto Timóteo, que é criminalista e agente da PF aposentado. Para o defensor, trata-se de um "caso absurdo", sem base qualquer. É mais uma coisa para envergonhar a Justiça brasileira", disse.

Lucas

Já Lucas foi o primeiro a ser preso, na terça-feira (7), no Aeroporto Internacional de Guarulhos, quando voltava do Líbano. Ele alegou morar em Brasília e trabalhar com regularização de imóveis e é representante comercial. Há sete anos, foi preso por porte ilegal de arma.

"Você sair de um lugar para fazer parte de um grupo em guerra, você sair da sua paz para isso?", questionou.

Os dois foram mantidos algemados durante a audiência. Mesmo diante da declaração de inocência, a prisão foi mantida. Eles deverão seguir para o sistema prisional na segunda-feira (13).

Relembre o caso

A Polícia Federal cumpriu alguns mandados de prisão e busca e apreensão ao redor do Brasil a partir da suspeita de que brasileiros ligados ao grupo islâmico Hezbollah planejavam ataques terroristas no país.

Segundo a PF, foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão em Minas e três no Distrito Federal. Houve duas prisões temporárias em São Paulo.

A PF recebeu as informações do Mossad, a principal agência de inteligência israelense, e dos EUA. Um dos presos no Brasil estava desembarcando de uma viagem oriunda de Beirute, no Líbano, país de atuação principal do Hezbollah.

Entre os alvos apontados pelos investigadores, estariam sinagogas e prédios ligados à comunidade judaica no Brasil. Um deles seria a Embaixada de Israel, em Brasília.

O caso é curioso: o Brasil não possui histórico de terrorismo e tem baixa penetração de redes desse tipo. Além disso, o próprio Hezbollah não é responsabilizado por atos terroristas no exterior há muitos anos, pois o foco do grupo se concentra em objetivos militares na Síria e em Israel.

Também chama atenção como Israel e EUA conseguiram prever um eventual ataque terrorista no Brasil, mas não se anteciparam ao atentado do Hamas que matou cerca de 1,2 mil israelenses no dia 7 de outubro.

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