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Terras raras: Jungmann, militares e o grupo político que quer privatizar soberania do Brasil a Trump

Enquanto Trump incendeia redes com defesa do clã Bolsonaro, governo dos EUA atua junto a lobby entreguista histórico para dizimar soberania brasileira e um probo Jungmann é retratado apenas como presidente do Ibram pelo Jornal Nacional

Por JORNAL DO BRASIL com Revista Fórum
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Publicado em 25/07/2025 às 13:56

Raul Jungmann no Jornal Nacional e com Etchegoyen e Braga Netto quando ministro da Defesa de Temer Foto: Reprodução TV Globo / Ministério da Defesa

Por Plínio Teodoro - A carta enviada por Donald Trump ao governo Lula anunciando a taxação de 50% dos produtos brasileiros, caso o julgamento do líder da quadrilha golpista Jair Bolsonaro (PL) não seja suspenso pelo Supremo Tribunal Federal (STF), suscitou a retomada da defesa da soberania do Brasil pelo campo progressista e atingiu com força até eleitores do Centro, segundo pesquisa Ipespe.

No entanto, nas catacumbas, um antigo grupo político já se mobilizava em torno da verdadeira cobiça do governo Trump e das empresas transnacionais sediadas nos EUA sobre o Brasil.

Na noite desta quinta-feira (24), no Jornal Nacional, da Globo, um probo Raul Jungmann, apresentado apenas como diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração, o Ibram, anunciava que o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, anunciara em reunião à entidade "que os Estados Unidos também querem acesso a minerais estratégicos para o setor tecnológico, riquezas do solo brasileiro como o lítio e o nióbio".

"Eles reafirmaram esse interesse mostrando realmente que estão preocupados e que têm interesse e nós sabemos que eles realmente precisam de terras raras, está certo. Eu respondi a eles que como a Constituição Brasileira determina que o subsolo - leia-se os minerais - é da União, que essa é uma pauta do governo, que nós estávamos preocupados em estreitar uma pauta e fazer contrapartidas com o setor privado e também com o congresso americano. Evidentemente que pode vir a ser uma carta a mais na manga da negociação para os brasileiros, mas isso, repito, depende do que o presidente e o nosso negociador chave venham a propor", afirmou Jungmann.

Horas antes, o mesmo Escobar já teria colocado a pauta sobre a exploração das chamadas "terras raras" no Brasil na reunião com o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), que foi colocado por Lula à frente das negociações com o governo Trump e o setor empresarial brasileiro.

A ânsia pela perfuração de novos poços de petróleo - "drill, baby, drill" - e a cobiça pela exploração dos 17 elementos químicos das terras raras, essenciais para a transição energética, é uma obsessão de Trump desde a campanha presidencial, e revela o desejo dos EUA em manter sua hegemonia em um mundo em mudança, com a iminente exaustão dos combustíveis fósseis.

Foi assim com o acordo assinado em abril por Trump com Volodmir Zelensky, que entregou as jazidas de titânio, lítio, gás e petróleo ucranianas às transnacionais estadunidenses. E também na tratativa anunciada na terça-feira (22) com o Japão, que fará um investimento bilionário no gasoduto de 1.300 quilômetros de extensão no Alasca, para que os grandes players do petróleo vendam gás natural liquefeito ao mercado asiático.

Em 2025, o relatório U.S. Mineral Commodity Summaries, do Serviço Geológico dos EUA (USGS), apontou China e Brasil nos primeiros lugares em reservas de terras raras no mundo.

A China, em primeiro lugar, concentraria até 49% das reservas globais de ETRs (cerca de 44 milhões de toneladas), e o Brasil, 23% — o segundo lugar mundial —, com cerca de 21 milhões de toneladas.

Atualmente, cerca de 70% das exportações minerais brasileiras vão em direção ao mercado chinês. A indústria lidera com a exportação de ferro, mas também envia nióbio, bauxita e manganês.

Jungmann, militares e o lobby transnacional
Desde antes de Getúlio Vargas cunhar a simbólica frase "o petróleo é nosso", que virou slogan da defesa da soberania nacional já nos anos 1950, a cobiça dos grandes conglomerados sediados nos EUA e comandados pelo sistema financeiro pelas riquezas minerais do Brasil é latente.

Assim como as negociatas espúrias com os grupos políticos brasileiros que atuam nas sombras e, vez ou outra, emergem ao poder pelas vias democráticas ou por golpes, Raul Jungmann é uma das figuras que circulam por esses grupos e vai muito além de ser um simples presidente do Ibram.

Aos 73 anos, Jungmann vem de uma antiga dinastia pernambucana e participou ativamente das Diretas Já, se filiando ao PCB após a redemocratização e auxiliando na criação do PPS (atual Cidadania), do qual se desfiliou em 2018.

Em 1995, aderiu ao governo FHC, que virou símbolo do projeto neoliberal no Brasil com a adesão das "massas cheirosas", atuando como presidente do Ibama, ministro da recém-criada pasta de Política Fundiária e, na sequência, de Desenvolvimento Agrário.

Após a ascensão de Lula, em 2002, caiu no limbo e participou de governos neoliberais, sendo nomeado por Aécio Neves como conselheiro da Light - na tentativa de privatizar a Cemig, estatal de energia de Minas Gerais. Por indicação de Gilberto Kassab, presidente do PSD e assessor de Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), ganhou cargos nos conselhos da Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET) e também da Prodam/SP (Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Município de São Paulo).

Em 2016, Jungmann voltou ao Palácio do Planalto pelas mãos de Michel Temer (MDB), como Ministro da Defesa, após ser o principal articulador do golpe parlamentar contra Dilma Rousseff (PT) nas Forças Armadas.

Aqui vale um aparte: Dilma foi tirada do poder após ajudar a criar o Banco dos Brics - com a intenção desdolarizar as transações comerciais - e o Fundo Social do Pré-Sal, para destinar os royalties da exploração à Saúde e Educação, além de limitar a participação das transnacionais na exploração da nova jazida do "ouro negro".

Ao se aproximar do grupo ligado ao general Eduardo Villas-Bôas, Jungmann costurou com Temer a nomeação do general Sérgio Etchegoyen para ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional.

O então ministro da Defesa também foi responsável por criar a operação de Intervenção Militar na segurança pública do Rio de Janeiro e alçar para o comando outra figura da caserna que se tornou proeminente no governo Jair Bolsoanro (PL), o general Walter Souza Braga Netto - que está preso pelo plano de assassinar Lula, Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes por facção da quadrilha golpista de Bolsonaro.

Do governo ao lobby: contra a soberania
Após deixarem o governo golpista de Michel Temer, com informações privilegiadas sobre Defesa e as riquezas do país, Jungmann e o general Etchegoyen deram continuidade à parceria nas catacumbas do grupo político historicamente entreguista, atuando nas sombras para minar a soberania do Brasil.

Em maio de 2022, último ano do governo Bolsonaro, os dois fundaram o Instituto Brasileiro de Autorregulação do Setor de Infraestrutura (Ibric), uma consultoria privada de compliance, que se apresenta como ONG.

Entre os campos de atuação do instituto está a "representação dos associados com stakeholders nacionais e internacionais – ser um vetor de transformação da imagem do setor perante potenciais financiadores, clientes, agências de rating, governo" e a "melhoria da imagem do setor perante investidores internacionais e nacionais". Em resumo: lobby.

Jungmann e Etchegoyen também atuam em conjunto no comando do "Centro Soberania e Clima", um think tank que atua "em temas como Amazônia, Bioeconomia, Transição Energética, Inteligência, Geopolítica e Justiça Climática".

Já como presidente do Ibram, como resumiu a Globo, Jungmann tem como parceiro outro militar: o general Fernando Azevedo e Silva, que atuou como ministro da Defesa entre 2019 e março de 2021, quando foi demitido por Bolsonaro sob especulações de que teria se recusado a aceitar a interferência do ex-presidente nas Forças Armadas.

Criado em 1976, durante a Ditadura Militar, na capital mineira, o Instituto tem ainda como diretora administrativa e financeira Andrea Cavalcante, que foi assessora de Jungmann no Ministério da Defesa de Temer, onde atuou na Coordenação Geral do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia.

Em sua lista de associados, o Ibram coleciona grandes players da mineração transnacional - controladas pelo sistema financeiro - como Alcoa, Samarco e Vale, privatizada durante o governo FHC.

Jungmann também atua como presidente da Lide Mineração, braço do grupo lobista de João Doria que atua em prol de empresas do segmento, e é conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, think thank que tem como foco exercer "influência na formulação de políticas públicas voltadas à promoção da agenda internacional do Brasil".

Antes da entrevista de Jungmann que foi ao ar no Jornal Nacional, na noite desta quinta-feira (24), Michel Temer divulgou um vídeo nas redes sociais em que se prontifica a colocar sua "experiência" para ajudar o Brasil "em momentos sombrios".

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